Ter a força para te dar força, ir
buscar à alma cansada, a alegria. Fazê-la aparecer, dar-ta a beber, mas não só,
fazê-la correr, transbordar, para que encha o teu cálice. Procurar saídas,
abrir portas e janelas, mostrar-te paisagens intocadas, sem sulcos de guerra,
sem feridas do Homem, apenas esperança, na forma de horizonte. Olhar o mar sem
sombras negras, sem vagas mortíferas, aniquiladoras, apenas reflexos solares, tranquilidade,
espuma dos sonhos. Aceitar o Céu, saber aceitar, respirar fundo, reordenar o
espirito, baralhar, soltar o coração e voltar a dar, voltar a sonhar.
Mas por que escrevo? Para quem? Angustio-me.
Porque não ris? Porque não brilham os teus olhos? Porque dormes acordada?
Porque estou assim, porque é assim. Resigno-me. Porque não é fácil, porque a rotina
dos dias fazem esquecer, porque nos fazem esmorecer. Não, debato-me. Será
diferente, não te apagues, não te entregues, não te feches nesse lugar. Vislumbro
por fim. Nenhuma montanha conquistarás, sem que antes a invejes, do fundo do vale,
nem será doce o fruto se não o conheceres amargo, nenhum luar te iluminará sem as
trevas da noite, nem sentirás tão doce a brisa, sem a quentura do meio-dia. Alegra-te
porque assim é, assim será para ti, o que vives é a antecipação do sonho, que por
momentos esqueceste.
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