23 de novembro de 2012

Eis-nos


"Caminhante,
As tuas pegadas são o caminho,
E nada mais,
Caminhante,
não há caminho,
O caminho faz-se andando,
a andar se faz o caminho,
E ao olhares para trás,
vês o caminho que não
voltarás a pisar,
Caminhante,
Não há caminho,
Apenas estrelas reflectidas no mar."


Tradução livre do poema "Caminante", do poeta espanhol Antonio Muchado y Ruyz

20 de novembro de 2012

Ei-los

Chegados enfim à encruzilhada, olharam para os três caminhos. Esforçaram-se por lhes antecipar o horizonte, em vão. Não olharam mais para trás, pois daí já traziam o fardo da vida, do caminho que lhes pesava. Ei-los aqui chegados, a nova encruzilhada. À direita seguia uma estrada lisa, brilhando a tons de dourado, à esquerda era macia e alva, como pavimentada a nuvens, em frente seguia igual à que os trouxe ali, árida e pedregosa. No momento em que lhe guiou a mão para um dos lados, sentiu igual força, em sentido inverso. Resultou que ficaram no mesmo sitio, meio surpreendidos, rindo um para o outro. Ele ajudou-a a contornar uma pedra e ela apoiou-se no seu ombro. Familiarizados com os gestos, habituados às dificuldades, nunca olharam para trás. Continuaram em frente, como sempre souberam.

19 de novembro de 2012

Eis-me

Chegado a esta altura da vida, reconheço os clichés de que falavam. Em perspectiva, vejo os altos e baixos, os sonhos desfeitos e concretizados, as dificuldades, as perdas, os ganhos, a tristeza e a felicidade. Parece mais sofrida agora a vida. É mais sofrida a vida, quanto mais é vivida? Parece mais sofrida, mas talvez me engane, não sei. Eis-me então perante a vida, eis-me perdido no tempo, julgando que saberia mais do que sei, mas em ocasiões, sabendo mais do que queria. O que mais me preocupa aqui chegado, é se nos altos e baixos da vida, nos sonhos desfeitos e concretizados, nas dificuldades, nas perdas, nos ganhos, na tristeza e na felicidade, no meio da espuma dos dias, me tenho esquecido de a viver.