8 de outubro de 2013

Caminho


Um caminho liga um ponto a outro, tem partida e tem chegada, e enquanto o percorremos, em cada passo nosso, vivemos. A vida é pois uma viagem, mas sem a habitual pressa de chegar. Ainda assim é avessa a descanso, não nos permite retrocessos, só avanços, e quanto muito, numa dada encruzilhada, oferece a escolha do por onde, mas sempre continuar.

Neste meu caminho encontrei e perdi pessoas, viajantes como eu, percorri e percorro grandes distâncias, felizmente acompanhado. Não gosto de andar sozinho, senão por minha vontade, e mesmo que a dada altura, assim possa escolher, nunca será por muito tempo. É da minha natureza a convivência, o gosto pela partilha dos milagres que a estrada oferece, o reconhecimento da beleza das coisas reflectida nos olhos de outros, sabendo que só assim se amplia nos olhos meus.

A experiência do caminho traz o conhecimento, o crescimento interior. Perder pessoas, por força de morte ou por circunstâncias de vida, dificulta-nos a viagem, traz-nos um vazio que ao invés de nos tornar mais leves, nos pesa na bagagem, como um novo lastro. Quem outrora nos acompanhou lado a lado, parou, ou seguiu por via diferente, deixando-nos um eco de passos, que vai enfraquecendo, até por fim se silenciar. Paradoxo. Que silêncio ensurdecedor é este que me acompanha, que me faz olhar para trás?

Aqui chegado olho à minha volta. Contemplo os campos, os rios e todas as formas de vida, tão perfeitas no seu equilíbrio, vejo o mar imenso, sinto-lhe o sal, vislumbro o céu e seus astros, quase lhes toco. Aqui chegado sufoco um grito, um apelo: Caminhantes que amo e perdi, despedidas que nunca fiz, nem por um dia vos esqueço, pois em cada passo vos levo, e o que eu sou sois vós. E se porventura a noite cair, mesmo a mais escura das noites, nas estrelas vos encontrarei, vosso brilho seguirei. Estivemos juntos na estrada, estejam também à chegada.